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Fazer-se dom

O Espírito Santo é aquele que derrama e prolonga, por assim dizer, na história o ato de dar-se próprio de Deus Trino, então Ele é aquele, o único, que pode ajudar-nos a fazer da nossa vida um dom e uma “oferta viva”.

No final da vida, somente restará em nossas mãos aquilo houvermos dado, transformado em algo de eterno. Uma poesia de Tagore apresenta um mendigo que narra a sua história. Em prosa, diz:

“Ia eu mendigando de porta em porta, ao longo da rua da aldeia, quando despontou ao longe uma carruagem dourada. Era a carruagem do filho do rei. Pensei comigo mesmo: ‘É a grande chance da minha vida!’ Sentei-me e pus no chão, bem aberta minha sacola, na esperança de ganhar generosa esmola, sem precisar nem pedi-la.Ao contrário, pensei que as riquezas iriam chover pelo chão ao meu redor.

Qual não foi, porém minha surpresa quando, chegando perto de mim, a carruagem parou, o filho do rei desceu e, estendendo a mão direita, me disse: ‘O que tens para me dar?’

Como...um rei estender a mão a um mendigo!? Confuso, hesitante, peguei da sacola um grão de arroz, um só, o menorzinho, e ofereci ao príncipe.
Mas, que tristeza; de noitinha, mexendo na sacola, encontrei um grãozinho de ouro, um só. Chorei amargamente porque não tivera a coragem de lhe ter feito o dom de tudo”. (R. Tagore. Gitanjali, 50)

Tudo que não se dá se perde, porque estando nós destinados a morrer, morrerá conosco tudo aquilo que conservamos até a última coisa, ao passo que aquilo que se dá é subtraído à corrupção e, por assim dizer, despachado de antemão para a eternidade.

Se tudo isso vale para cada cristão, de modo particular vale para as pessoas consagradas. Qual é a essência ou a alma da consagração religiosa, a não ser fazer da própria vida um dom e uma oblação viva a Deus? (O Canto do Espírito,Raniero Cantalamessa)