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SANTA TERESA DAVILA

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    Santa Teresa X Família

    Quem foi santa Teresa de Jesus? Muitos a confundem com Teresa do Menino Jesus ou santa Teresinha como popularmente é invocada.

    Teresa de Jesus é uma das mulheres mais importantes da história de todos os tempos. O seu nome está ligado à vida da Igreja, pela sua santidade; à vida e à história do Carmelo pelo seu empreendimento de reforma que lhe mereceu o título de Fundadora do Carmelo Descalço; à vida da literatura espanhola pelo brilho e profundidade dos seus escritos; à vida da humanidade pela sua mensagem sempre viva, atual, capaz de fazer mudar de vida quem busca o Absoluto. Primeira mulher que mereceu o título de Doutora da Igreja. É tanto mais divina quanto mais humana e tanto mais humana quanto mais divina.

    Nascimento de Teresa

    Estamos a comemorar o V Centenário de seu nascimento que aconteceu numa quarta feira da Paixão, em Ávila aos 28 de março de 1515 às cinco horas da manhã. Era o alvorecer de um novo tempo: havia apenas vinte anos que Cristovão Colombo oferecera ao rei Fernando e à rainha Isabel a Católica o império sobre um continente. Toda a Espanha se enfunava como uma caravela em alto mar...

    Pais virtuosos

    De seu pai Alonso Sanchez de Cepeda sabemos ser ele homem de cultura e “afeiçoado a ler bons livros”; muito caridoso e piedoso; gozava da fama de uma grande honestidade de costumes e de maneiras, a sua fisionomia inspirava respeito a quem quer que o conhecesse: tudo nele testemunhava a dignidade do seu caráter. Ser “honesta” foi também a característica marcante de toda a vida de Teresa.

    Quando morreu a sua primeira mulher, Catalina del Peso Y Henao, possuía boas terras, rebanhos enormes, casas e jóias em abundância... Depois de três anos de viuvez desposou-se com Beatriz de Ahumada jovem de quatorze anos apenas que no seu novo lar encontra um menino e uma menina filhos do primeiro casamento. Em 1511, deu à luz Fernando, seguido em 1512 de Rodrigo. E, assim, quando Teresa nasceu, aquela mulher de vinte anos apenas teve de a responsabilidade de cuidar de cinco crianças: uma carga pesada demais para uma natureza delicada. Por isso, apesar de sua coragem, vemo-la cada vez mais esgotada, à medida que iam nascendo Lourenço, Antonio, Pedro, Jerônimo, Agostinho, Joana e, sem dúvida, um nono filho João. (“Éramos três irmãs e nove irmãos. Todos se pareceram com seus pais pela bondade de Deus, em serem virtuosos”, diria mais tarde Teresa). Portanto, uma família numerosa eminentemente respeitável e respeitada.

    “Minha mãe tinha muitas virtudes e passou a vida com grandes enfermidades. Grandíssima honestidade”. Uma nota aparentemente negativa é a afeição de dona Beatriz pelos livros de cavalaria, mas esta não suspeitava que com isso estivesse suscitando em Teresa o seu grande amor pelas aventuras e romances da época, como Amadis de Saulo ou Gaballero Gifar.

    Grandes conquistas

    Neste clima familiar, religioso e de grandes descobertas históricas, cresceu Teresa trazendo consigo a enorme bagagem de traços herdados desta vivência e do desenvolvimento Mundial. Ao ver seus irmãos partirem rumo às Américas em conquista de novas terras, sente em seu coração o mesmo impulso, sentimento que jamais a abandonou, deixando em Teresa o sentimento viril e destemido.

    À procura do martírio

    Teresa fica extasiada ao descobrir que a glória e felicidade do céu são eternos, o que rendia muito tempo de trocadilhos e brincadeiras com seu irmão Rodrigo que dizia: “Pra sempre, sempre, sempre Teresa?” “Sim! Pra sempre, sempre, sempre Rodrigo!”

    Assim, numa fria manhã outonal, quando ainda a casa dos Cepeda e Ahumada estava envolvida no silêncio, Teresa com apenas 7 anos arrasta a seu irmãozinho Rodrigo para a terra dos “mouros” com a esperança de que os decapitassem por Cristo. Uma fuga infantil que não deu muitos resultados. O encontro com o tio terminou esta aventura. É, porém, neste período que surge em Teresa o início de um programa de vida: “Quero ver a Deus!” Expressão candorosa de uma criança, que revela desde cedo o profundo de sua alma e pressagia o místico tormento de sua vida inteira. Conservará sempre o seu entusiasmo juvenil, o seu amor pela aventura. Ela vive a angústia dos Santos, não sabe se adaptar ao medíocre.

    Da família de Teresa qual mensagem tirar hoje?

    A fé, o amor, honestidade, virilidade e tantos outros atributos são o esteio desta família capaz de gerar muitos e bons cristãos comprometidos com o desenvolvimento de sua época dentre eles destaca-se uma grande mulher que se tornou uma exímia escritora “mesmo sem pretensão de ser”, capaz de dar sua vida pela causa da fé, mas agora de outra maneira.

    Só uma família de vivência profunda da fé, que prima pelos valores culturais e morais é capaz de gerar homens e mulheres para uma nova sociedade.

    Com estes poucos relatos do ambiente familiar de Teresa, podemos nos questionar: quais as marcas que nossa vivência familiar deixou em nós? E hoje muitos de nós que já construímos família quais marcas estamos a deixar nestes futuros protagonistas da história? Somos família de fato?

    Que Santa Teresa nos ajude a caminharmos segundo ao chamado ousado e intrigante de outro grande Santo, São João Paulo II: “Família, torna-te o que és!”

    Podemos por vezes ser tomado pelo cansaço do caminho, mas sem nunca desanimar, pois como nos diz Teresa com voz profética e audaz: “É tempo de caminhar!”

    Caminhemos dentro do contexto que estamos vivendo, com as orientações do Sínodo pelas Famílias!

    Ah! Se pudéssemos compreender como são profundas as marcas de amor e de gratidão que desperta e grava nos corações dos filhos semelhante perfil de pais.

    Santa Teresa, rogai por nós!

    Monjas Carmelitas Descalças


     

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    Teresa, juventude entre o humano e o divino

    Jovem, Teresa de Jesus teve seu processo vocacional entre os 18 e os 20 anos depois de superar a normal crise da adolescência ao redor dos 15 anos. Fala desses períodos nos primeiros capítulos do livro da Vida.

    As surpresas do coração

    Adolescente entrega-se às leituras novelescas, que a afastaram da verdade de quando criança. Galanteia com primos e primas, algumas destas certamente destoavam da moralidade familiar; está à mercê das surpresas do coração.Mitigam-se e   assombram-se as relações com o seu pai. Gostava de ouvir dizer que era bonita e tudo, segundo diz “sem má intenção porque não queria que alguém ofendesse a Deus por minha causa”. Teresa sentia-se querida, e um dos seus primos a adorava. Qual? Não nomeia ninguém. Acusa-se também do prazer que tinha em conversar com uma prima pouco escrupulosa na maneira de passar o tempo e que a fazia partilhar do seu gosto pelas vaidades.

    Grande aversão de ser Monja

    A situação agrava-se com alguns acontecimentos familiares: Maria, a irmã mais velha, ao casar-se deixa a casa paterna; é quando o senhor Alonso toma a decisão de colocar Teresa interna no colégio de Nossa Senhora da Graça, no intuito de romper com essa rede de amizades.

    Aludindo aos “primeiros oito dias” relata que o Senhor começou a dar-lhe luz e a diminuir um tanto a grande aversão que tinha de ser Monja.

    Depois de ano e meio foi acometida por uma grave doença que a fez regressar à companhia dos seus. Foi grande a influência de seu tio que a incentivou a ler bons livros embora não lhe agradassem. A força das palavras de Deus, tanto lidas como ouvidas, e a boa companhia a fizeram compreender as verdades que entendera quando menina: a inutilidade de tudo o que há no mundo, a vaidade nele existente, a rapidez com que tudo acaba.

    Lutas e grandes combates

    Assim relata: “Passei três meses nessa batalha... os trabalhos e o sacrifício de ser monja não podiam ser maiores do que os do purgatório, e eu bem merecia os do inferno. O demônio me insinuava que eu não ia suportar as exigências da vida religiosa, por gostar de comodidades. Foram muitas as tentações por que passei”.

    Alçando vôo para o Mosteiro da Encarnação de Ávila

    “O meu sofrimento ao deixar a casa paterna não foi menor que a dor da morte. No momento certo o Senhor me deu ânimo e assim levei avante o meu propósito; importa muito começar com grande determinação”. Mais tarde afirmará: “A alegria que experimentei em ver-me religiosa continua até hoje”. Era a madrugada de 02 de novembro de 1535.

    Passou o tempo das “lendas douradas”: os santos de todas as épocas jamais caminharam como anjos alados sobre nuvens, mas tiveram que lavrar a sua santidade dia após dia, passo a passo, por entre dificuldades e tropeços. Caíram e levantaram-se.

    A mensagem Teresiana é sempre atual porque não transmite idéias, mas vida.

    De Teresa “ nunquam satis!” Até o próximo mês!

  • O fato decisivo na vida de Teresa Open or Close

    O fato decisivo na vida de Teresa

    Mosteiro de Nossa Senhora da Encarnação: palco das manifestações divinas

    “...revestida do santo Hábito, o Senhor me fez compreender as graças que concede aos que se violentam para segui-lo. A alegria que experimentei em ver-me religiosa continua até hoje. Senti-me particularmente feliz quando acontecia de varrer naquelas horas que antes dedicava à vaidade”. Relata santa Teresa no livro da Vida.

    Não obstante as grandes consolações foi acometida, ano depois, por uma misteriosa doença. Novos médicos, novos remédios, nenhum resultado. A doença agravou-se a tal ponto, que, no mosteiro, já lhe haviam aberto a cova. Depois de quatro dias desta misteriosa morte aparente, Teresa retomou a consciência.

    O glorioso São José

    Convalescença lenta e demorada: três longos anos; só então começou a engatinhar! Com aquela lógica peculiar, dirigiu-se a São José: “A outros Santos, Deus parece ter-lhes dado graça para socorrer numa determinada necessidade; quanto ao glorioso São José, tenho a experiência de que socorre em todas, e de que o Senhor nos quer dar a entender que, assim como lhe esteve sujeito na terra e lhe chamava de pai (...) também no céu faz tudo o que lhe pede”. Desde então a presença deste Santo passa a ser determinante, nos seus escritos e espiritualidade e em sua missão de Fundadora.

    Conversão

    Com o passo firme, de uma vivacidade miraculosamente recuperada graças ao glorioso  São José, Teresa dirigia-se com frequência ao locutório onde recebia os seus amigos: espíritos seletos de Ávila, tanto cavaleiros como damas da nobreza. Não tardou que a cidade inteira comentasse como era encantadora a conversa da jovem carmelita. O dom de atrair e cativar não a abandonou nunca.

    A Profissão religiosa vinculava-a a Cristo como Esposo, e as amizades roubavam-lhe o afeto que devia a Deus. Vive um drama interior: delícias divinas, prazer nas amizades humanas. As palavras luta, combate, esforços e penas repetem-se com frequência na sua autobiografia.

    Esse dividido coração entre Deus e o mundo teve um final feliz com uma “conversão” a Deus em dois atos: primeiro diante de uma imagem de “Cristo muito chagado” (1554), e a “definitiva”, por um milagre, um dom do Espírito Santo, que lhe deu a capacidade de amar sem apegos nem dependências, numa plena “liberdade” interior (1556).

    O caminho real

    O Ecce Homo sulcado do vermelho de chagas revelou-lhe a sua pequenez. Com a leitura das Confissões de Santo Agostinho começa a ter fortes vivências interiores; renasce nela o anelo de sua infância pelo que não há de acabar, o “para sempre, para sempre”. O Senhor só esperava a decisão de Teresa para cumulá-la de graças. Um dia, enquanto rezava o hino Veni Creator, teve o primeiro êxtase e o Senhor lhe disse: “Já não quero que tenhas conversas com os homens, mas com os Anjos”.

    Através das lutas e das graças, Deus enriqueceu o seu “ser” de mulher, de cristã e de monja, abriu a sua alma às experiências místicas e, sobretudo, preparou-a para uma grande missão na Igreja e na sociedade. Sobre isto iremos abordar nos meses seguintes, pois de Teresa “nunquam satis”.

    Monjas Carmelitas Descalças

  • Teresa de Jesus, Fundadora Open or Close

    Teresa de Jesus, Fundadora

    “Espera um pouco, filha e verás grandes coisas” “Certo dia, depois da comunhão, Sua Majestade me ordenou expressamente que me dedicasse a esse empreendimento com todas as minhas forças. Fez grandes promessas de que não deixaria de fundar o Mosteiro, no qual Ele seria muito bem servido. Disse-me que deveria ser dedicado a S. José. Este glorioso Santo nos guardaria a uma porta e Nossa Senhora, à outra; Cristo andaria conosco. A nova casa se tornaria uma estrela de imenso esplendor...” (Vida 32, 11). Do Senhor recebe a Santa “ordem de envio” para fundar em Ávila o primeiro Carmelo Descalço (24/08/1562). Este se converte em plataforma de lançamento de sua carreira fundacional. Forjam-se as monjas no novo estilo de vida e se forja a Fundadora. A quebra da unidade eclesial na Igreja de seu tempo está nas origens da Fundação; e o panorama da América, nas origens da expansão de seu Carmelo além das muralhas de Ávila. Teresa é mulher de caminhos.

    Deus se faz Protagonista - Em Teresa convertida, a primeira experiência profunda consiste, “em um sentimento da presença de Deus, que em nenhuma maneira podia duvidar que Ele estava dentro de mim e eu engolfada nele”. (Vida 10,1) Ao largo de seus anos de Fundadora experimenta como Deus em Cristo se faz Protagonista, intervém ativa e realmente, inspirando com iniciativas: “Espera e verás!”. “Disse-me o Senhor”. ”Teresa, sê forte!” “Não sabes que sou Poderoso? Que temes?”. “Sou Eu” que dissipa os medos e dá segurança definitiva.

    Linhas básicas da nova Família: Mosteiro “pequeno e de poucas monjas” recordando o grupo dos apóstolos, o pequeno “Colégio de Cristo” que afirma a centralidade de Cristo, levando tudo com suavidade e totalidade evangélica (num clima de solidão, de alegria...).

    Comunidade eclesial e pobre. A Igreja se converte em motivação vocacional e em horizonte aberto e apostólico: “Todas ocupadas em oração pelos que são defensores da Igreja e pregadores e letrados. Procuremos ser tais, para que valham as nossas orações”. Abertas ao mundo e à Igreja: “Ó irmãs minhas em Cristo! Ajudai-me a suplicar isto ao Senhor, que para isto vos reuniu aqui...!

    Comunidade de amizade. “Estilo de irmandade”, expressão clássica da Santa. “Aqui todas se hão de ser amigas, hão de se amar...se querer...se ajudar”; qualidades indispensáveis para ser orantes. A sua idéia fundamental de Deus, é a de um Deus amigo e isto se torna uma das linhas mestras de seu itinerário espiritual.

    Atualidade do Carmelo. Como vamos constatando, a atualidade de Teresa é a nossa atualidade. Não devemos confundir a atualidade de uma Ordem ou de um carisma com a sua popularidade, mas na sua capacidade de ser a resposta adequada a quanto, desde o mais profundo do seu ser, o ser humano almeja, procura e precisa. No centro do V Centenário teresiano deve estar aquilo que está no centro do coração de Teresa; devemos situar aquilo que, a quinhentos anos de distância não envelheceu, e muito menos perdeu a sua atualidade, quer dizer, uma vida empapada, ferida de Deus, à qual foi confiada uma missão de crucial importância: recordar à Igreja e ao ser humano de todos os tempos que o centro do homem é Deus e que o centro de Deus é o homem.

    Com a proclamação de nossos três Santos “Doutores da Igreja” - a Santa, São João da Cruz, Santa Teresa de Lisieux -, aos quais se há somado a proclamação de Santa Edith Stein como Patrona da Europa, é a mesma Igreja quem reconhece a validez e a atualidade de nossa Ordem a nível da Igreja universal. Terminamos o artigo dando a palavra a H. U. Von Balthasar: “No marco dos tempos modernos, nenhuma Ordem religiosa parece haver recebido tantas graças com caráter de missão como o Carmelo; graças que representam manifestamente uma advertência e um contrapeso para as correntes contemporâneas no mundo e na igreja”. Santa Teresa nos ajude a assumir uma renovada consciência de nossa identidade e missão na Igreja de hoje.  Monjas Carmelitas Descalças

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    Segredo e mensagem de um nome

    Um hinógrafo oriental – assim relata Jesús Castellano Cervera,ocd - compôs, há uns anos um ofício de rito bizantino em honra de santa Teresa. Todo o texto – no original francês – é uma peça poética e há uma das antífonas que reza assim: “A tua vida, bem-aventurada Teresa foi, em tudo conforme ao teu nome: um colóquio divino através de todos os teus dias, e as tuas obras são eloquente palavra acerca de Deus”.

    O autor do hino encontrou uma nova etimologia do nome de Teresa - comenta Jesús Castellano. A engenhosa invenção etimológica faz derivar a palavra Teresa da dupla raiz grega conjugada neste vocábulo: Thé (o)-rêsis. O seu significado é, como diz a antífona citada: um colóquio com Deus ou uma palavra acerca de Deus. E, poderíamos mesmo dizer: uma palavra de Deus. Esta nova etimologia serve para explicar o segredo de Teresa e sua missão na Igreja.

    Teresa: Uma palavra de Deus. Como os outros santos, Teresa é uma palavra viva de Deus, dita ao mundo para recordar a verdade e a vitalidade do Evangelho. É como uma palavra da Palavra, uma emanação do Verbo de Deus, uma parte desse Evangelho vivo que Deus continua a pronunciar na Sua Igreja. Assim brilha no firmamento da Igreja como palavra de Deus dita a seu tempo, e presente para sempre como mensagem de amor aos homens, exegese viva do mistério da oração cristã.

    Teresa: Uma conversação com Deus. É possível sintetizar a vida de santa Teresa neste aspecto original e primário da sua experiência religiosa. Estamos diante desse “trato com Deus”, característico da sua oração como relação de amizade, diálogo ininterrupto e conversação contínua. Basta abrir uma página dos seus escritos para deparar-se nesta experiência singular de uma conversação sincera  e comprometida com Deus. É o reflexo do que foi a sua vida, toda ela colóquio com Jesus Cristo nascido na mesma graça de hábil conversadora, de amiga íntima. Por isso ficou como mensagem eclesial de Teresa o seu testemunho e a sua pedagogia de falar com Deus, mas partindo da intimidade e da naturalidade do “trato” amistoso com Deus que é Pai, Irmão, Amigo e Esposo.

    Teresa: Uma palavra acerca de Deus. Não só a sua vida, também os livros de Teresa de Jesus. Seus escritos continuam a ser uma palavra viva, autorizada, penetrante e eficaz, acerca de Deus, com vibrações de experiência de quem fala porque ouviu, viu, tocou e foi testemunha do mistério de Deus.   Em síntese, eis o segredo e a mensagem do nome de Teresa. Ao dar-nos Teresa à Igreja, Deus disse-a como palavra Sua. Assim Deus e Teresa dizendo-se mutuamente, teceram um diálogo inefável o que constitui valiosa síntese da sua mensagem espiritual para a Igreja: a oração.

    Estamos chegando à fase final do V Centenário de seu nascimento. Prosseguiremos, procurando viver com intensidade e gozo esta celebração jubilar até 15 de dezembro quando coincidirá com o 67º aniversário de Fundação do nosso Carmelo nesta diocese de Santos. Coloquemo-nos diante da experiência e do ensinamento de santa Teresa, estimulados a caminhar rumo à meta com “grande e muito determinada determinação de não parar até chegar a ela (Caminho de Perfeição,21,2 ).

    Teresa nos ajude! Teresa peregrina, mulher de caminho, com paixão de horizonte de eternidade, de um sempre mais-além. Às suas monjas costumava exortar: “é preciso começar sempre de bem para melhor”. Já avançada em idade, ainda dirá com jocosa resignação: “Não acabamos de ser santos nesta vida”.

    Monjas Carmelitas Descalças.

  • Teresa: uma vida para a Igreja Open or Close

    Teresa: uma vida para a Igreja

    Tópicos de uma “biografia interior”

    Falar de alguém não é tarefa muito fácil, especialmente quando não a conhecemos ou, na melhor das hipóteses, se pouco a conhecemos, resulta desafiador. Aquele ditado –só sei que nada sei- parece aflorar à medida que adentramos na interioridade de Santa Teresa. Estamos a comemorar aos 04 do corrente mês o V Centenário do seu Batismo que a fez filha de Deus e membro da Igreja. Em breves pinceladas vejamos como viveu estas dimensões do seu Batismo.

    Dimensão Trinitária

    Há uma frase iluminadora do nosso Papa Francisco: “Com Teresa, guardemos Cristo em nossa vida”. Este “guardar Cristo” na vida tem uma conseqüência que consiste na transformação do nosso “ser” em “ser” de Cristo sem que um ou o outro perca a sua própria identidade. Realidade esta que mais enobrece e dignifica o ser humano, abrindo-lhe dimensões imprevisíveis. Presença de um Deus escondido que se revela aos poucos em relação de amizade e que a santa relata a sua própria experiência: “Deus se fixa a Si mesmo no interior da alma de modo que, quando volta a si, de nenhuma maneira pode duvidar que esteve com Deus e Deus nela”. Percebe-a como “uma esponja que a água incorpora e embebe; parecia-me que a minha alma se enchia dessa maneira com aquela divindade, gozando e tendo em si de certo modo, as Três Pessoas”. A experiência habitual trinitária de Teresa é um entender não entendendo.

    Graças místicas que não interferem na sua realidade material: para ela, dinheiro continua sendo dinheiro e as panelas, panelas... Divinização e humanização: “A alma do justo não é outra coisa senão um Paraíso onde Ele disse ter suas delícias” e “Entre as panelas está o Senhor.”

    Dimensão Eclesial

    Teresa compartilha a situação dramática da Igreja do século XVI mesmo condicionada com as desvantagens que sua condição de mulher representava na época. Sua oração se traduz em oração da Igreja e pela Igreja; as lutas da Igreja são suas lutas.

    Como afirmou São João Paulo II, “o eixo da vida de Teresa como projeção de seu amor por Cristo e seu desejo da salvação dos homens foi a Igreja. Teresa de Jesus “sentiu a Igreja”, “viveu a Igreja”, viveu a “paixão pela Igreja” como membro do Corpo Místico. Os tristes acontecimentos da Igreja de seu tempo, foram como feridas progressivas que suscitaram oleadas de fidelidade e de serviço. Sentiu profundamente a divisão dos cristãos como um desgarro de seu próprio coração.Respondeu eficazmente com um movimento de renovação para manter resplandecente o rosto da Igreja santa. Teresa foi aquela fogueira de amor eclesial que iluminava e afervorava os teólogos e os missionários”(Homilia, 01.11.1982).Ao morrer, ainda manifesta sua alegria e seu grande amor pela Igreja, exclamando: “Enfim, Senhor, morro filha da Igreja!”

    “Não haja, entre nós, covardes! Aventuremos a vida!”

    Faz-nos bem, também a nós recordar com gratidão o dia do nosso Batismo, redescobrir o dom recebido e nos questionar como estamos vivendo estas duas dimensões...

    Monjas Carmelitas Descalças.

  • Teresa de Jesus,  Escritora Open or Close

    Teresa de Jesus,  Escritora

    Junho- 2015

    Teresa, uma mulher do século XVI, que se prodiga como escritora não deixa de ser estranho e curioso...e, sobre coisas de alta mística, quando esta estava em período de gestação e formação. Escritora ocasional, forçada pelas características que definem sua vida a partir de seu ingresso na vida mística.

    Escritora por obediência: Teresa não empunhou nunca a pena por iniciativa própria; basta folhear os prólogos de seus livros. Em todos confessa: mandaram-me, importunaram-me e esta mulher “sem letras” (Vida 10, 8) escreve coisas de letrados. O seu estilo literário foi louvado pelos melhores especialistas na matéria e que a denominam “escritora de raça”.

    Escritora mística e por graça mística, inspirada sobrenaturalmente. Ela assim o declara: “De fato, um favor é receber a graça do Senhor, outro é entender qual o favor e qual a graça, e outro ainda saber entender e explicar como é” (Vida 17,5). Receber, entender, comunicar. Graça de inspiração que a capacita para “dizer” sua experiência e para “dar nome” às graças com que Deus a visita, graça permanente e chave de interpretação da obra teresiana. Sente-se envolta na luz divina e na experiência de inefabilidade: “Muitas coisas que escrevo não são da minha cabeça, senão que as dizia este Mestre celestial”. Deus é mais que a experiência que o homem pode ter dele e a palavra que traduz essa experiência resulta pequena; daí  o reconhecimento de um Deus “sempre maior”, inacessível."Oh, valha-me Deus! Quisera ter aqui toda a eloquência e sabedoria dos mortais, para bem saber — como aqui se pode saber, porque tudo é não saber nada, neste caso — explicar alguma das muitas coisas que podemos considerar para conhecer um pouco quem é esse Senhor e Bem nosso!” (C 22,6).

    Seus escritos: Livro da Vida. Trata-se de uma autobiografia teológica: história verdadeira, de dentro, narração daquilo que Deus nela realizou. Ela confessa: “Não direi coisa que não tenha experimentado bastante” (18,8).

    Caminho de Perfeição: o livro nasce da necessidade de fazer partícipes de seu carisma de Fundadora o pequeno grupo de monjas do recém fundado Carmelo de São José em Ávila. Na parte primeira (1,3) dá uma orientação cristológica-eclesial de toda a vida do Carmelo. Na parte segunda (4,25) os pressupostos para ser orante. E, por fim, a natureza da oração, exigências e efeitos da contemplação.

    As Fundações: pode-se dizer que é uma continuação do livro da Vida; começou a escrevê-lo em 1573 e o continua à medida que vai fundando os  17 mosteiros.

    Castelo Interior ou Moradas, escrito em 1577, em apenas dois meses e meio. É um manancial transbordante, compêndio da realidade interior de si própria. Cada pessoa é um Castelo interior, como aquele que ela possui: na sua capacidade e dignidade, no seu ser feito à imagem de Deus, na sua condição de templo do Espírito, na sua vocação radical à comunhão com Deus. A porta para entrar é a oração.

    Um feixe de pequenos escritos são os escritos menores, não menos importantes: Relações ou Contas de Consciência, Conceitos do Amor de Deus, Exclamações, Poesias e Epistolário.

    Teresa vive entre nós: por meio de seus escritos a voz de Teresa continua a ecoar no coração de quem acolhe sua presença. Dedicar um breve espaço para leitura de uma página de Santa Teresa é aproximar-se de sua pessoa, colocar-se a caminho e deixar-se moldar por ela. O resto será feito. Somente tal frequência cotidiana nos pode dar o sabor e o gosto do carisma de Teresa. Esta proposta quer ser o grande dom que o Carmelo sente de oferecer, para que homens e mulheres do século XXI sejam também místicos, pessoas que experimentam Deus, que descubram o sentido da própria existência. Voz profética de Rarl Rahner: “O cristão do futuro ou será místico ou não será cristão”. O Livro da Vida abre-se como um leque para o conhecimento da Santa; o Castelo Interior escrito para completar o panorama de suas experiências interiores, servirá como paradigma do processo de toda vida espiritual cristã. Que ninguém se sinta excluído da possibilidade de percorrer o seu caminho e receber graças semelhantes às que ela recebeu. Santa Teresa nos ajude! Monjas Carmelitas Descalças

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    Teresa, Mestra de Oração

    Oração teresiana, trato de amizade.

    Entender isto é entender um pouco de Teresa: mulher contemplativa e andarilha, o que é o mesmo que dizer tudo. Que é unir o silêncio e a palavra, a alma e o corpo, a clausura e o caminho, o êxtase e os negócios, a oração e a vida. Foi monja contemplativa sem deixar de ser mulher; cristã com vocação ecumênica; livre de si, voltada para os outros. Tudo nela é comunicação, oração e amizade. Teresa não se explica sem a oração  e o conceito de amizade é a chave da oração teresiana.

    Ser orantes é outra coisa muito distinta de fazer oração, ou ter oração, ou como diz Teresa, ter amizade com Deus. Um acto exterior como fazer oração pode improvisar-se. Ser amigo, ser orante, não. Por ser “trato de amizade” a oração compromete a vida inteira.

    “Não é outra coisa a oração mental, a meu parecer, senão tratar de amizade estando muitas vezes a sós com quem sabemos nos ama” (V 8,5). “Pensar e entender o que falamos e com quem falamos, e quem somos nós que ousamos falar com tão grande Senhor..., é oração mental” (C 25,3).

    “Uma pessoa que não comece pela verdade melhor faria em não orar” (V 13, 16).

    Esta é a frase mais forte dos escritos teresianos. Não seria possível uma relação de amizade com Deus que é a Verdade, sem estar fundada na verdade. A oração é um modo de ser, se educa desde a vida;  requer uma determinada determinação num empenho prévio ou simultâneo de “recriar” o eu no cultivo das virtudes evangélicas. Teresa seleciona três fundamentais: o amor aos irmãos, desapego e humildade.

    A mensagem de Teresa não será mais do que uma fiel tradução de sua experiência. Chegará ao extremo de simplificação. Orar é “estar” ou “querer estar” em “tão boa companhia” como a de Deus. Fazer presente o Amigo, “olhar” para Quem nos olha. Presença de todo o ser.  Atenção do orante centrada na Pessoa divina. “Não vos peço senão que olheis para Ele”. - “Mire que le mira” - “Olha, que Ele te olha”. Descreve, com uma simples palavra, a própria oração: “Ficava-me ali com Ele”.

    A proposta do Carmelo não é retirar a pessoa do seu contexto social para que ela possa encontrar-se com Deus e ser contemplativa, mas deixar que, no comprometimento com as realidades terrestres possa experimentar a presença viva de Deus, deste Deus que se revela também na coflitividade dos contrastes.Embora Teresa saliente  a importância do encontro com o Senhor no silêncio e na solidão, já na plenitude de sua união com Deus, escrevia: “Entre as panelas está o Senhor” e “Marta e Maria devem sempre andar juntas”. Ele se comunica por muitos caminhos. Não está só nos “recantos”.

    “O problema não está sempre no excesso de atividades – assim fala Papa Francisco em Evangelii Gaudium -, mas, sobretudo, nas atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que empregne a ação e a torne desejável”. Por isso exorta: “Permanecei em Jesus! Permanecei ligados a Ele, dentro dele, com Ele, falando com Ele”.

    O orante torna-se dom para os outros: na Igreja e no mundo; não pode fechar-se sobre si mesmo. Assim Teresa formou suas monjas; assim encontramos em Maria o exemplo, “mulher orante  e trabalhadora em Nazaré, mas também nossa Senhora da prontidão, a que sai à “pressa” de sua povoação para ir ajudar os outros” (EG).

    Caminhemos com ela!  
    Monjas Carmelitas Descalças.

  • O inconveniente de ser mulher! Open or Close

    O inconveniente de ser mulher!

    Ser proclamada oficialmente como a primeira mulher Doutora da Igreja é um tanto inusitado! É precisamente este o problema que enfrenta o Concílio Vaticano II, em termos gerais, declarando a não discriminação dos carismas dentro da Igreja (LG, 12) com o que e com numerosos gestos de promoção da mulher ficava em aberto o caminho para a ansiada proclamação doutoral de Teresa de Jesus.

    Pré-história do doutorado - A primeira publicação de suas Obras Completas, garantida pelo laudo de Frei Luís de León - literato, teólogo e biblista – serve de lançadeira. Este assegurou “não ter dúvidas de que o Espírito Santo falava por ela e lhe regia a pena e a mão”. Nos séculos XVII e XVIII, em nível estritamente teológico pronunciam-se a seu favor os salmanticenses: “a beata Teresa tem a auréola de doutora, cuja singular doutrina a Igreja aprova e recebe como emanada do Céu”. No século XIX publicam-se já numerosos estudos para demonstrar a vigência do doutorado teresiano, criando duas correntes extremas: de um lado, quem não só apresente todo um tratado em favor do doutorado, mas difunda centenas de imagens da Santa com a toga e barrete doutoral e logra que o famoso arquiteto Gaudí, eleve em Barcelona o maior monumento arquitetônico simbolizando o seu doutorado. Do lado oposto os Bolandistas se opõem por sua condição de mulher. Sempre esbarrava com o inconveniente de ser mulher! Doutor da Igreja era prerrogativa exclusiva do homem. O mesmo acontece no século XX quando se expõe ao papa Pio XI a possível proclamação doutoral da Santa. O Pontífice prefere não se pronunciar, alegando pela enésima vez o motivo feminista: “o sexo inviabiliza”.

    Proclamação – Num gesto sem preâmbulos, em 15 de outubro de 1967, na Basílica de São Pedro o então  Papa Paulo VI anunciava o seu propósito de declarar Doutoras da Igreja a Santa Teresa e a Santa Catarina. Fato excepcional e mais ainda por ser de iniciativa absolutamente pessoal do Papa. E aconteceu na Basílica Vaticana aos 27 de setembro de 1970 com a bula Multiformis Sapientia Dei. Também nisto ela foi uma pioneira. E, se encontramos em Teresa uma personalidade tão forte e tão rica que abriu sempre caminhos novos e impôs-se a todos, não obstante se tivesse procurado, de várias maneiras, sufocá-la, é porque a palavra de Deus encontrou nela um fértil terreno.

    “O significado deste ato é muito claro – assim declara o Santo Padre na homilia da ocasião-; é um ato que intencionalmente quer ser luminoso, que poderia ter a sua imagem simbólica numa lâmpada acesa diante da humilde e majestosa figura da Santa. É um ato luminoso, por causa do facho de luz que a lâmpada do título de Doutora projeta sobre ela, e também por causa do outro facho de luz que este mesmo título de Doutora projeta sobre nós. Sobre ela, Teresa: a luz do titulo de Doutora põe em evidência valores indiscutíveis que já tinham sido amplamente reconhecidos, como, antes de tudo, a santidade da sua vida... A doutrina de Santa Teresa de Ávila resplandece pelos carismas de verdade, de conformidade com a fé católica, de utilidade para a erudição das almas, e também por outro carisma que podemos sublinhar, o da sabedoria, que nos leva a pensar no aspecto mais atraente e, ao mesmo tempo, mais misterioso do doutorado de Santa Teresa, isto é, no influxo da inspiração divina nesta prodigiosa escritora mística. Encontramo-nos, indubitavelmente, diante de uma alma, na qual a iniciativa divina extraordinária se manifesta, é experimentada e depois descrita... A Igreja a escuta como a “mãe e mestra”. Teresa possuiu a arte de expor estes segredos em grau tão elevado que se classificou entre os maiores mestres da vida espiritual. É, por isso, que a sua estátua nesta Basílica, entre as fundadoras de Famílias Religiosas, tem uma inscrição que define muito bem a Santa: Mater spiritualium. Como é grande, como é única, como é humana e como é atraente esta figura! A sua doutrina sobre a oração é a sua mensagem para nós! Ouçamo-la e façamo-la nossa”.

    Assim se reafirma sua atualidade.Vemos em Teresa um carisma... que não só não suprime   nela a mulher, senão que chega a colocar a riqueza do feminismo ao serviço da difusão das verdades da fé. Compromete a sua vida sem reservas: “mil vidas daria!”...

    Monjas Carmelitas descalças.

  • “Da sua misericórdia jamais desconfiei” (V 9,7) Open or Close

    “Da sua misericórdia jamais desconfiei” (V 9,7)

     

      “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai” (Misericordiae Vultus).

    Este rosto o vemos refletido em todas as facetas da vida de Teresa. Aos cinquenta anos enquanto escreve o livro de sua Vida o qual denomina “livro das misericórdias de Deus”, santa Teresa recorda e  revive uma das experiências mais fortes de sua juventude, a de um Deus misericordioso, um Dios ganoso, um Deus com “ganas” de dar-se: “Nessa época, embora não me dedicasse à minha salvação, o Senhor cuidava mais de mim, encaminhando-me para o estado que mais me servia” (V 3,3). “Poderoso é Sua Majestade para tudo o que quiser fazer, e tem ‘ganas’ de fazer muito por nós” (M 6,11,1). Deus é comunicação. Deus é graça e, como Deus se comunica. Seu ser é dar-se, dispensar graças. “Quem acabará de contar suas misericórdias e grandezas? Não se contenta o Senhor com dar-nos tão pouco como são os nossos desejos”. “Sua Majestade nunca se cansa de dar” (C 32,12). “Deus não se cansa de estender a mão” nos diz hoje o Papa Francisco (Misericordiae Vultus).

        Esta experiência irá se apoderando de sua alma de contemplativa, até o estupor. Teresa “espanta-se” de um Deus assim. E a nós produz certo estremecimento o encontro com passagens de sua autobiografia, uma história teológica com dois protagonistas: Deus-amor, Teresa-pecado: “Recordem-se de suas palavras e vejam o que Ele fez comigo, que antes me cansei eu de ofendê-Lo que Sua Majestade deixasse de perdoar-me” (V 19,15). “Ó Deus da minha alma, como nos apressamos em Vos ofender e como Vos apressais ainda mais em nos perdoar” (Excl. 10,3). É o reconhecimento do contraste entre o modo de agir de Deus e o do ser humano.

        Da experiência à mensagem- Teresa pretende não só que Deus seja glorificado por sua misericórdia para com ela, mas quer convencer, desde o anúncio de sua experiência de vida nova, que Deus é assim com todos. Ela não se considera uma exceção, mas vive convencida de que Deus oferece esses bens do seu amor para todos os homens. “Quanto maior o mal, mais resplandece o bem de vossas grandes misericórdias. Vejam o que Ele fez comigo: embora eu me cansasse de ofendê-Lo, Sua Majestade nunca deixou de perdoar-me. Ele nunca se cansa de dar nem a Sua misericórdia pode se esgotar; que nós não nos cansemos de receber. Que Ele seja bendito para sempre, amém, e que todas as criaturas cantem Seus louvores (V 14,11b;19,15).Deus, dom. Ontem e hoje. A ela e a todos! A misericórdia não é mais um atributo de Deus. Ela surge da capacidade de abertura da pessoa perante o Deus que gratuitamente se entrega.

        No limiar do Jubileu Extraordinário da Misericórdia deixemo-nos, a exemplo de Santa Teresa surpreender por Deus. “Ele nunca Se cansa de escancarar a porta do seu Coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar conosco a sua vida. Do coração da Trindade, do íntimo mais profundo do mistério de Deus, brota e flui incessantemente a grande torrente da misericórdia. Esta fonte nunca poderá esgotar-se, por maior que seja o número daqueles que dela se abeirem. Sempre que alguém tiver necessidade poderá aceder a ela, porque a misericórdia de Deus não tem fim. “Quanto insondável é a profundidade do mistério que encerra, tanto é inesgotável a riqueza que dela provém” (Misericordiae Vultus).

       “Ó Senhor meu...Vossa Majestade buscando modos e maneiras e invenções para mostrar o amor que nos tendes; nós como mal experimentados em amar-vos o temos em pouco...!”(Conc. 1,4)

    No fundo, se oculta a visão idílica de um Deus necessitado de receber para poder dar: “Não Se entrega de todo enquanto não nos damos a Ele por inteiro” (C 28,12). E como não pretende forçar a nossa vontade, Ele recebe o que Lhe damos.  Teresa nos transmite assim, a experiência de um Deus que age suscitando respostas humanas no coração humano e não constrange ninguém; que se serve, via de regra, do pobre, do pequeno, de tudo quanto aparentemente é impossível, do fraco...Porque é então quando, com maior evidência, resplandece a sua misericórdia e a gratuidade   da sua entrega a cada ser humano. Por sua intercessão seja-nos dada a graça de ir reconhecendo e experimentando Deus como “misericórdia minha”, como Aquele que a mim se doa em virtude dom seu amor e não em virtude dos nossos “méritos”.

    Monjas Carmelitas Descalças.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

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    “PARA VÓS NASCI”

    O lema do V Centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus que  festejamos em 2015 foi tomado de um de seus poemas Nas mãos de Deus, cujos dois primeiros versos dizem: “Vossa sou, para vós nasci. Que mandais fazer de mim?”

    Este poema é expressão de uma vida que se compreende como dom do amor de Deus e oferenda para Ele. Atestam os biógrafos que Santa Teresa foi surpreendida várias vezes balbuciando: “Que quereis de mim, Senhor? Sou vossa, para Vós nasci...”  Reconhece ter nascido, ter vindo ao mundo unicamente para cumprir a vontade de Deus. E isto todos nós devemos reconhecer.

    O ser humano criado e redimido

    “Vossa sou, para vós nasci. Que mandais fazer de mim?” Lema que não só evoca o nascimento de Santa Teresa, mas nos esclarece de como a nossa vida deve se orientar em absoluta obediência e disponibilidade ao plano de Deus: o que Ele quer para nós, seja alegria, seja tristeza, seja saúde, seja enfermidade. Seguir as pegadas de Teresa que nos propõe assim um caminho de felicidade e de liberdade interior.

    Sua experiência espiritual lhe possibilitou viver as realidades reveladas em grau elevado. Em Cristo, o ser humano tem em si uma capacidade que o transcende: não só está feito à imagem de Deus, senão que é capaz de contê-lo.  Redimida por Ele, cada pessoa é chamada e esperada; com Ele somos salvos; à sua semelhança, a vida do ser humano se realiza na obediência ao plano do Pai.

    A mensagem de Teresa para o mundo de hoje

    O nosso mundo sofre não só uma crise econômica, mas uma crise moral, a crise existencial. Perdemos o sentido de nossa presença no mundo, para que temos nascido.

    Santa Teresa nos dá uma resposta. “Para que nascemos?” “Para Vós!”. Para viver de acordo com um projeto que Deus acariciou desde toda a eternidade, para dar-nos aos demais, porque tudo que não se dá se perde.

    Como conclusão...

    Santa Teresa nos convida a um conhecimento próprio que se abre ao infinito do Mistério, o único capaz de fundamentar de maneira infinita e inalienável o inquietante mistério do ser humano, que sempre inquietou a mente de quem procura um sentido para a própria existência ou a razão de ser. Teresa nos leva a descobrir este espelho interior, aquilo que o define: o ser humano é na sua interioridade, na sua alma (quer dizer, naquilo que sustenta e rege a sua vida), um ser de uma beleza incomparável, um ser que, longe de carecer de sentido ou de estar vazio por dentro, está habitado pelo próprio Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo; um ser, em definitivo, que é imagem e semelhança de Deus.

    A Santa experimentou que este ser humano pode viver arrastrado por suas  forças instintivas e ignorante de sua própia identidade e assim lamenta: “Não é pequena lástima e confusão que, por nossa culpa, não nos entendamos a nós mesmos nem saibamos quem somos”.

    Por isso, devemos ser mais permeáveis a mensagem de Teresa, aspirar também a ser totalmente de Jesus, só de Jesus e sempre de Jesus. Não ter medo de uma entrega total tal qual ela o fez: “Sou vossa, Senhor, para Vós nasci; o que quereis fazer de mim?”

    Deixemo-nos conduzir por Teresa a Jesus!

    Monjas Carmelitas Descalças