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A experiência que santa Teresa tem do Espírito Santo é uma experiência soteriológica, isto é, a ação do Espírito Santo que prolonga a presença do Ressuscitado e sua obra salvífica na história.

Na vida de Teresa há um fato central que relata esta experiência. É a graça da conversão definitiva ao Senhor, obtida após a invocação do Veni Creator Spiritus, que opera nela a libertação afetiva de algumas amizades, que impediam que seu coração estivesse inteiro em Deus. Escuta estas palavras: “Já não quero que tenhas conversação com os homens, senão com os Anjos. (Vida, 24,5).

Comenta a Santa:

“Meu Confessor disse-me que encomendasse o caso a Deus por alguns dias e rezasse o hino Veni Creator para que me inspirasse naquilo que era o melhor. Tendo estado um dia muito em oração e suplicado ao Senhor que me ajudasse a contentá-Lo em tudo, comecei o hino; e estando-o a dizer, veio-me um arroubamento tão súbito que quase me tirou de mim, coisa de que eu não pude duvidar, por que foi muito claro. Foi a primeira vez que o Senhor me fez esta mercê de arroubamentos. Compreendi estas palavras: ‘Já não quero que tenhas conversações com homens, senão com anjos’. A mim me causou isto muito espanto, porque o movimento da alma foi grande e muito em espírito me foram ditas estas palavras e assim atemorizei-me, embora, por outra parte, me desse grande consolo, o qual me ficou depois de sossegar. A meu parecer, isso foi causado pela novidade.

Desde aquele dia fiquei tão animosa para deixar tudo por Deus, como se Ele, naquele momento - não me parece ter sido mais - quisesse deixar outra a Sua serva
Seja Deus bendito para sempre que, num momento, me deu a liberdade que eu, com todas as diligências quantas tinha feito em muitos anos, não tinha podido alcançar por mim; ainda que fazendo muitas vezes tão grande esforço, que me prejudicava à saúde. Como foi feito por Quem é poderoso e Senhor verdadeiro de tudo, nenhuma pena me causou”.

Outro fato central – experiência santificadora - é relatado pela Santa no Livro da Vida 38, 9-10. Ocorreu na véspera de Pentecostes ou a Páscoa do Espirito Santo como ela o denomina. A graça mística tem lugar na oração retirada e solitária, dentro do marco da liturgia da Igreja, lendo um texto relativo a esta festa, para entender como o Espírito Santo se acha presente na vida espiritual. E, parecendo-lhe que “por bondade de Deus, não deixava de estar comigo” caiu em um êxtase no qual viu o Espírito Santo em forma de pomba que descia sobre sua cabeça:

“Estando nisto, vi sobre minha cabeça uma pomba, bem diferente das de cá, porque não tinha estas plumas, senão as de umas conchinhas que lançavam de si grande esplendor’’

Imediatamente se sossegou o seu espírito “com tão bom hóspede”, e um sentimento de quietude e de gozo a invadiu, que transformou sua vida:
“Desde aquele dia entendi ficar com grandíssimo aproveitamento no mais subido amor de Deus e as virtudes muito mais fortalecidas” (V 38,11)
Os efeitos desta ação do Espírito Santo em Teresa de Jesus (gozo interior, quietude, amor, virtudes...) não são outros que os frutos do Espírito na vida cristã, descritos por São Paulo como “amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio de si” (Gál 5,22-23)

Ciro García,ocd