Deus chama todos à santidade
A ti também
Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra.
És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja.
És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos.
És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus.
Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais.
Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida (cf. Gal 5, 22-23
Quando sentires a tentação de te enredares na tua fragilidade, levanta os olhos para o Crucificado e diz-Lhe: «Senhor, sou um miserável! Mas Vós podeis realizar o milagre de me tornar um pouco melhor».
Na Igreja, santa e formada por pecadores, encontrarás tudo o que precisas para crescer rumo à santidade.
«Como uma noiva que se adorna com as suas joias» (Is 61, 10), o Senhor cumulou-a de dons com a Palavra, os Sacramentos, os santuários, a vida das comunidades, o testemunho dos santos e uma beleza multiforme que deriva do amor do Senhor.
Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com pequenos gestos. Por exemplo, uma senhora vai ao mercado fazer as compras, encontra uma vizinha, começam a falar e…surgem as críticas. Mas esta mulher diz para consigo: «Não! Não falarei mal de ninguém». Isto é um passo rumo à santidade. Depois, em casa, o seu filho reclama a atenção dela para falar das suas fantasias e ela, embora cansada, senta-se ao seu lado e escuta com paciência e carinho.
Trata-se doutra oferta que santifica.
Ou então atravessa um momento de angústia, mas lembra-se do amor da Virgem Maria, pega no terço e reza com fé. Este é outro caminho de santidade.
Noutra ocasião, segue pela estrada fora, encontra um pobre e detém-se a conversar carinhosamente com ele. É mais um passo.
Sucede, às vezes, que a vida apresenta desafios maiores e, através deles, o Senhor convida-nos a novas conversões que permitam à sua graça manifestar-se melhor na nossa existência, «para nos fazer participantes da sua santidade» (Heb 12, 10).
Outras vezes trata-se apenas de encontrar uma forma mais perfeita de viver o que já fazemos: «há inspirações que nos fazem apenas tender para uma perfeição extraordinária das práticas ordinárias da vida cristã».
Quando estava na prisão, o Cardeal Francisco Xavier Nguyen van Thuan renunciou a desgastar-se com a ânsia da sua libertação. A sua decisão foi «viver o momento presente, cumulando-o de amor»; eis o modo como a concretizava: «aproveito as ocasiões que vão surgindo cada dia para realizar ações ordinárias de maneira extraordinária».
Deste modo, sob o impulso da graça divina, com muitos gestos vamos construindo aquela figura de santidade que Deus quis para nós: não como seres autossuficientes, mas «como bons administradores das várias graças de Deus» (1 Ped 4, 10).
(Exortação Apostólica do santo Padre Papa FRANCISCO: Gaudete et Exultate)